quinta-feira, abril 07, 2011

The soul you're about to sell for passion deranged

"Faltavam dois minutos para a meia-noite e ela estava nervosa.
Ainda tinha tempo de desistir, no fundo, era uma ideia insana. E ela sabia-o, mas ela era insana por isso a ideia era apenas normal.
Respirou fundo. Era apenas um negócio. E vistas as coisas, era um excelente negócio.
Ela dava uma coisa que nem sequer via, tocava ou precisava e recebia o que queria, amava e desejava.
Era simples. Tão simples, por isso é que ela o ia fazer.
É claro que existia o senão de ter uma data limite. Dez anos. Mas seriam dez anos de felicidade em vez de dez anos de solidão.
Até podia ser apenas um ano, um dia ou uma hora. Não lhe importava.
E era aí que residia a sua insanidade, esta despreocupação em dar qualquer coisa só para o ter.
Não importava o custo desde que ele fosse dela. E isso é que a assustava.
Ao longe, soou o sino da igreja. Estava na hora. Ela estava no local certo. Não deveria demorar muito.
- Boa noite.
A voz estava algures atrás dela. Rodou sobre si mesma e ficou sem ar. Ele era o homem mais bonito que alguma vez vira na sua vida. Por momentos esqueceu-se de tudo, até do seu nome.
- Tens plena consciência do que estás disposta a vender?
Ela pestanejou. A garganta estava seca, por isso pigarreou. Quase se esquecera do que viera ali fazer.
- Sim. - a voz tremeu-lhe e ele franziu o sobrolho. A imagem do seu amado surgiu-lhe na mente e ela ganhou forças. - Sim! A minha alma por dez anos de felicidade.
- Dez anos? - a voz dele soou bastante trocista. - Porque não mais?
Porque ela sabia que o máximo possível eram dez anos. Mas não lhe ia dizer isso.
- Dez anos bastam.
- Muito bem.
Ele aproximou-se dela e ela susteve a respiração, e quando os seus lábios se tocaram ela sentiu-se zonza. Ela aquela a sensação de se perder a alma?
E ficou sozinha.
A noite continuava igual, o céu negro com poucas estrelas, ao longe um cão ladrou. Ela sentia-se igual.
Bem, não perdera um braço perdera a alma, ela nem sabia onde é que ela estaria na sua anatomia.
Pegou no telemóvel e ligou para o número de sempre.
- Desculpa acordar-te, era só para dizer que te amo.
E desligou.
Sim, fora a escolha acertada. A única maneira de ficarem juntos seria com o sacrifício de um deles. E ela decidira fazê-lo. Melhor amar dez anos que vivê-los completamente sozinha. Arrumou o telemóvel e partiu.
E jurou a si mesma, que nos próximos dez anos nunca voltaria àquela encruzilhada."


*Ari

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